Derrame pericárdico: o que é, sintomas, causas e tratamento
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O derrame pericárdico é uma condição na qual ocorre o acúmulo de líquido no espaço que envolve o coração, chamado de pericárdio. Esse líquido, que normalmente está presente em pequenas quantidades (até 50 ml), tem a função de lubrificar e proteger o coração. No entanto, quando há um aumento excessivo desse líquido, pode gerar compressão do coração, dificultando seu funcionamento e colocando a vida em risco.
Um estudo publicado no BMJ Best Practice indica que o derrame pericárdico pode estar presente em até 6,5% da população adulta. A prevalência cresce conforme a idade, sendo inferior a 1% entre pessoas de 20 a 30 anos e ultrapassando 15% em indivíduos com 80 anos ou mais.
Esse problema pode surgir por diferentes causas e, quando não tratado, compromete o funcionamento do coração. Continue lendo e entenda o que é o derrame pericárdico, quais são os principais sintomas, causas e as opções de tratamento disponíveis.
O que é derrame pericárdico?
O pericárdio é uma espécie de “bolsa” que envolve e protege o coração. Ele é formado por duas camadas, uma externa, mais resistente, chamada de pericárdio fibroso, que funciona como uma capa de proteção. E uma camada interna, chamada de pericárdio seroso.
Coordenador do serviço de imagem cardíaca (SADT cardiológico) do Hospital Niterói D’Or, Dr. Vinicius Maia explica que o pericárdio seroso, que é a camada interna do pericárdio, também tem duas partes. Ele é composto pelo pericárdio visceral, que fica grudado diretamente no coração, como se fosse uma película bem fininha sobre ele, e pelo pericárdio parietal, que fica mais externo, ligado à camada mais resistente, chamada de pericárdio fibroso.
Entre essas duas camadas existe um espaço virtual, chamado de espaço pericárdico, que normalmente contém uma quantidade mínima de líquido. Esse líquido funciona como uma espécie de lubrificante, permitindo que o coração se movimente sem atrito dentro do tórax. O derrame pericárdico é caracterizado pelo acúmulo anormal de líquido nesse espaço.
“Quando ocorre um derrame pericárdico, o acúmulo de líquido no espaço pericárdico pode exercer pressão sobre as cavidades cardíacas, afetando sua função normal”, destaca o Dr. Vinicius Maia, que também atua na equipe de ecocardiograma do Hospital Copa Star (RJ).
O especialista explica que inicialmente o pericárdio pode acomodar pequenas quantidades de líquido sem grandes alterações na pressão intrapericárdica e na função cardíaca, no entanto, volumes maiores podem levar à queda do volume de sangue ejetado (débito cardíaco), com sintomas progressivos e, em situações mais graves, a um comprometimento hemodinâmico significativo, choque cardiogênico e risco de morte.
“O derrame pericárdico pode variar de leve, moderado ou grave. Classificamos o derrame pericárdico como leve, quando temos uma pequena quantidade de líquido no espaço pericárdico, e derrame pericárdico grave, quando temos uma quantidade grande de líquido”, destaca Dr. Vinícius Maia.
Causas do derrame pericárdico
O derrame pericárdico pode ser causado por diferentes condições, que são geralmente classificadas em inflamatórias e não inflamatórias. As inflamatórias costumam ser mais comuns.
Entre as causas de derrame pericárdico de origem inflamatória estão:
- Doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide;
- Infecções como as virais e a tuberculose;
- E outras infecções, como as bacterianas e fúngicas.
Já entre as principais causas de derrame pericárdico não inflamatórias estão:
- Câncer (neoplasias);
- Insuficiência renal (uremia);
- Hipotireoidismo;
- Traumas;
- Dissecção aórtica;
- Complicações após cirurgias cardíacas.
“A identificação da causa subjacente do derrame pericárdico é crucial para o manejo adequado e pode envolver exames de imagem, análise do fluido pericárdico e, em alguns casos, biópsia pericárdica”, descreve Dr. Vinicius Maia.
Sintomas do derrame pericárdico
Os sintomas de derrame pericárdico podem ser inespecíficos e variar amplamente entre os pacientes dependendo do tamanho do derrame e da rapidez com que o líquido se acumula. “De acordo com a literatura médica, o sintoma mais comum é a dispneia (falta de ar), que pode ser relatada em pacientes com derrames de diferentes tamanhos”, aponta.
Outros sintomas de derrame pericárdico incluem:
- Dor torácica do tipo pleurítica: “Dor que varia com a respiração e com a posição do corpo, sendo geralmente aliviada ao sentar-se ou inclinar-se para frente”, afirma Dr. Vinícius
- Febre e fadiga: “Podem estar presentes principalmente em casos associados às causas inflamatórias”, destaca.
- Tosse e dor abdominal: “Podem estar presentes em derrames moderados ou graves com instalação insidiosa”, explica.
Em casos de derrames pericárdios graves ou de instalação rápida, os sintomas podem incluir:
- Taquicardia;
- Hipotensão arterial;
- Elevação da pressão venosa central;
- Sinais de tamponamento cardíaco.
“Tamponamento cardíaco consiste em uma emergência médica caracterizada pelo acúmulo rápido ou derrame pericárdico grave levando a compressão das câmaras cardíacas, choque cardiogênico e morte se não tratado adequadamente”, alerta Dr. Vinícius Maia.
Diagnóstico do derrame pericárdico
“O diagnóstico de derrame pericárdico é feito principalmente através de exames de imagem, com o ecocardiograma transtorácico sendo o método de escolha inicial, devido a sua alta precisão e capacidade de avaliar os efeitos hemodinâmicos do derrame”, ressalta Dr. Vinícius Maia.
Em casos em que a ecocardiografia não é conclusiva, outras modalidades de imagem cardíaca como tomografia cardíaca e a ressonância magnética cardíaca podem ser utilizadas.
“A ressonância cardíaca é útil não só para realizar o diagnóstico da presença do derrame como para detectar inflamação do pericárdio e a presença de massas guiando a estratégia terapêutica. Além dos exames de imagem, a avaliação clínica é fundamental, especialmente em pacientes com suspeita de tamponamento cardíaco”, destaca o cardiologista.
A identificação precoce e o manejo adequado do derrame pericárdico são essenciais para prevenir complicações potencialmente fatais e melhorar os desfechos clínicos dos pacientes.
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Tratamento do derrame pericárdico
Quando a causa do derrame pericárdico é identificada, o tratamento deve ser direcionado para ela. A escolha do melhor tratamento depende da situação de cada paciente, levando em conta a gravidade, a origem do problema e também a experiência da equipe assistente. As opções de tratamento incluem:
Pericardiocentese
“Punção com uma agulha e drenagem do líquido pericárdico, frequentemente utilizada para aliviar os sintomas, em casos de tamponamento cardíaco ou quando se suspeita de etiologia bacteriana ou hemorrágica”, explica o médico;
Drenagem cirúrgica (janela pericárdica)
“É indicada também em casos de derrames recorrentes ou quando a pericardiocentese não é suficiente. Mas podemos ter tratamentos conservadores nos casos assintomáticos com derrames crônicos sem repercussão hemodinâmica”, ressalta.
Após o tratamento de um derrame pericárdico é crucial implementar medidas de cuidado e acompanhamento para evitar o risco de recorrência e evolução para pericardite constritiva. “O manejo adequado envolve uma combinação de monitoramento clínico e de imagem, realizar avaliações regulares com o cardiologista e ecocardiograma transtorácico regular, para monitorar derrames residuais, sua evolução e sinais de constricção”, orienta Dr. Vinícius Maia.
“Adesão a terapia medicamentosa, tratamento das doenças de base e a atenção a sinais de alerta de recorrências do derrame, como o retorno da dor torácica, dispneia, palpitações e síncope (desmaio), são essenciais para uma evolução positiva”, salienta.
A recorrência é uma complicação comum após o tratamento inicial, especialmente após procedimentos de drenagem percutânea (pericardiocentese). De acordo com o Dr. Vinícius Maia, a drenagem cirúrgica, como a criação de uma janela pericárdica, reduz o risco de recorrências.
O derrame pericárdico se não tratado adequadamente pode evoluir para pericardite constritiva, condição em que o pericárdio se torna espesso, rígido e inelástico, limitando o enchimento e funcionamento do coração, resultando em insuficiência cardíaca diastólica.
“Se um derrame pericárdico não for tratado prontamente, pode levar a complicações graves, sendo a mais crítica o tamponamento cardíaco. Além disso, em pacientes com condições subjacentes a presença de um derrame pericárdico não tratado pode agravar a morbidade e mortalidade”, alerta o especialista.
Como prevenir um derrame pericárdico?
A prevenção do derrame pericárdico está diretamente relacionada ao controle e tratamento adequado das doenças de base tratáveis ou controláveis que podem causá-lo.
“A prevenção da recorrência de um derrame pericárdico pode ser feita através de medidas farmacológicas, aderindo à terapia proposta pela equipe assistente ou estratégicas cirúrgicas dependendo do contexto clínico e das causas subjacentes”, descreve.
Fazer acompanhamento médico regular é fundamental tanto para quem tem doenças que aumentam o risco de desenvolver derrame pericárdico (prevenção primária) quanto para quem já teve o problema antes, ajudando a evitar que ele volte (prevenção secundária).
“Pacientes com condições cardíacas preexistentes devem ficar atentos a sintomas que possam indicar a presença de um derrame pericárdico, especialmente devido ao risco de progressão para complicações mais graves”, alerta Dr. Vinícius Maia.
Se você apresentar dor no peito persistente, falta de ar, tontura, cansaço extremo ou inchaço no pescoço, procure um atendimento médico de urgência. Mantenha sempre seus exames em dia, agende uma consulta com um cardiologista D’Or. A identificação precoce de fatores de risco é essencial para prevenção de complicações graves.