Energético e álcool podem causar fibrilação atrial, coma alcoólico e outras consequências graves
Misturar energético e álcool pode causar arritmias, coma alcoólico e até morte súbita. Entenda os riscos dessa combinação e como se proteger.
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A combinação de energético com bebidas alcoólicas é bastante popular, principalmente entre os mais jovens em festas, baladas e eventos sociais. O que muitos não sabem é que essa mistura pode ser extremamente perigosa para o coração e para o sistema nervoso.
Em alguns casos, o consumo de energético e álcool pode até levar a situações graves como fibrilação atrial, arritmias cardíacas, coma alcoólico e até mesmo risco de morte súbita.
Neste artigo, você vai entender por que o energético com álcool é tão perigoso, quais são os efeitos dessa combinação no corpo e quando é necessário procurar ajuda médica.
Por que energético e álcool não combinam?
O energético é uma bebida estimulante, rica em cafeína, taurina e outros componentes que aumentam o estado de alerta e aceleram o metabolismo. Já o álcool é um depressor do sistema nervoso central, que reduz a coordenação motora, o raciocínio e a percepção.
Quando combinados, o energético mascara os efeitos do álcool, fazendo com que a pessoa se sinta mais “acordada” do que realmente está. Isso favorece o consumo excessivo de bebida alcoólica, reduz a percepção dos próprios limites e aumenta o risco de situações graves.
O cardiologista Dr. Otávio Carvalho, especialista em arritmias e avaliação de marca-passo, explica que os energéticos afetam o sistema cardiovascular principalmente por causa da cafeína e taurina, causando:
- aumento da frequência cardíaca;
- elevação da pressão arterial;
- vasoconstrição (estreitamento dos vasos sanguíneos);
- maior contratilidade do músculo cardíaco (o coração bate com mais força);
- aumento da demanda de oxigênio pelo miocárdio.
“O energético, por ser estimulante, esconde a sensação de embriaguez causada pelo álcool, que é depressivo do sistema nervoso. Isso faz com que a pessoa não perceba o quanto está intoxicada e continue bebendo além dos seus limites seguros. Enquanto o corpo lida com sinais conflitantes – aceleração pelo energético e depressão pelo álcool – o sistema cardiovascular fica especialmente sobrecarregado, podendo levar a alterações perigosas nos batimentos cardíacos e na pressão arterial”, descreve o médico.
Ele ainda alerta que a combinação de energético com álcool, que inicialmente dilata os vasos e depois pode causar vasoconstrição, gera efeitos contraditórios no sistema cardiovascular. O coração precisa trabalhar mais, enquanto o álcool compromete sua função normal. “Essa combinação cria uma ‘tempestade perfeita’ que pode sobrecarregar gravemente o sistema cardiovascular, especialmente em pessoas já comprometidas. Além disso, o álcool pode interferir no metabolismo dos componentes do energético, prolongando e intensificando seus efeitos”, complementa Dr. Otávio Carvalho.
Riscos do consumo de energético e álcool para o coração
De acordo com o Dr. Otávio Carvalho, o consumo de energético pode desencadear arritmias, incluindo a fibrilação atrial. “Isso ocorre porque os energéticos contêm altas doses de cafeína e outras substâncias estimulantes que aumentam a frequência cardíaca e a pressão arterial. Quando combinados com álcool, criam-se condições que podem alterar o ritmo elétrico normal do coração”, alerta o cardiologista, que também é coordenador da Cardiologia e da UTI Cardiológica do Hospital Santa Isabel em São Paulo (SP).
A fibrilação atrial está entre as complicações mais preocupantes, pois é uma arritmia em que os átrios (câmaras superiores do coração) pulsam de forma irregular e descoordenada, reduzindo a eficiência do bombeamento sanguíneo. “Pessoas que já têm predisposição genética para esse tipo de arritmia podem ter o primeiro episódio desencadeado por essa combinação de bebidas”, destaca Dr. Carvalho, que aponta outras consequências graves do consumo de energético e álcool para o coração:
- desidratação severa (ambas as bebidas têm efeito diurético);
- aumento excessivo da pressão arterial, potencializando riscos de AVC;
- taquicardia sinusal persistente (aceleração contínua dos batimentos);
- maior risco de comportamentos perigosos devido à falsa sensação de sobriedade;
- convulsões em pessoas suscetíveis;
- insuficiência cardíaca aguda em pessoas com problemas cardíacos preexistentes.
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De acordo com o médico, os adolescentes e jovens estão ainda mais vulneráveis e enfrentam riscos particulares ao consumir energético e álcool:
- corações ainda em desenvolvimento são mais vulneráveis aos efeitos da cafeína e outras substâncias estimulantes;
- sistema de metabolização hepática menos maduro, processando o álcool e os componentes do energético mais lentamente;
- maior propensão a comportamentos de risco sob efeito dessa combinação, como dirigir embriagado ou praticar atividades perigosas;
- desidratação mais severa, pois jovens geralmente dançam e se exercitam enquanto consomem essas bebidas;
- maior risco de dependência precoce, pois o cérebro em desenvolvimento é mais suscetível à formação de padrões de dependência;
- revelação de condições cardíacas congênitas até então silenciosas;
- interferência no desenvolvimento do sistema nervoso ainda em formação;
- maior risco de consumo excessivo devido à inexperiência com bebidas alcoólicas.
A combinação de energético com bebidas alcoólicas representa um risco significativamente maior para pessoas com predisposição a doenças cardíacas ou hipertensão. “Indivíduos com histórico familiar de problemas cardíacos, mesmo sem diagnóstico formal, podem ter sua primeira manifestação cardíaca após o consumo dessas bebidas juntas”, reforça.
O especialista destaca que em hipertensos, a elevação adicional da pressão arterial pode precipitar crises hipertensivas, com risco de lesões em órgãos-alvo como cérebro, rins e olhos. Pessoas com arritmias subclínicas (que ainda não apresentaram sintomas) podem ter o primeiro episódio sintomático desencadeado por essa combinação.
“É especialmente preocupante que muitos jovens desconhecem suas condições cardíacas subjacentes, já que raramente fazem check-ups cardiológicos. Assim, o primeiro sinal de um problema cardíaco congênito pode surgir em uma situação de consumo dessas bebidas”, alerta.
Os sintomas que podem surgir após o consumo excessivo energético e álcool são:
- palpitações (sensação de coração acelerado ou “pulando”);
- dor ou aperto no peito;
- falta de ar desproporcional ao esforço realizado;
- tontura ou vertigem;
- sudorese excessiva;
- ansiedade intensa ou ataques de pânico;
- tremores;
- náuseas e vômitos;
- desmaios ou perda momentânea de consciência;
- confusão mental;
- dor de cabeça intensa;
- extremidades frias;
- sensação de fadiga extrema quando o efeito passa.
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Misturar energético e álcool é seguro em pequenas quantidades?
Não existe uma “dose segura” dessa combinação. Mesmo em quantidades moderadas, o efeito mascarado do álcool aumenta o risco de exageros. Portanto, o ideal é evitar totalmente a mistura.
“Como médico, devo ser claro: não existe um limite seguro estabelecido para o consumo combinado dessas bebidas. A interação entre os componentes do energético e o álcool varia muito entre indivíduos, dependendo de fatores como peso, sexo, condições preexistentes, medicamentos em uso e até genética”, destaca Dr. Carvalho.
O cardiologista ressalta que o próprio “efeito de mascaramento” torna impossível que uma pessoa monitore adequadamente seu nível de intoxicação, levando frequentemente ao consumo excessivo mesmo quando a intenção era moderada.
“As sociedades médicas de cardiologia são unânimes em recomendar que energéticos e álcool não sejam misturados em nenhuma quantidade. Se uma pessoa consome energéticos regularmente, o ideal é aguardar pelo menos 4 a 6 horas antes de ingerir álcool, período em que a maior parte da cafeína já terá sido metabolizada pelo organismo”, aconselha.
Dr. Otávio Carvalho destaca que o consumo frequente de energéticos, mesmo sem álcool, pode prejudicar o coração em longo prazo. O cardiologista aponta que estudos recentes mostram que o uso regular de energético está associado a:
- elevação crônica da pressão arterial;
- aumento do risco de desenvolver arritmias;
- maior rigidez arterial (perda da elasticidade natural dos vasos);
- aumento do intervalo QT no eletrocardiograma (predispondo a arritmias graves);
- maior estresse oxidativo no sistema cardiovascular;
- aumento da agregação plaquetária (tornando o sangue mais propenso a formar coágulos).
“É particularmente preocupante o consumo regular por jovens, pois os efeitos podem ser cumulativos ao longo dos anos. Recomendo limitar o consumo de energéticos a ocasiões específicas e em quantidade moderada (não mais que uma lata pequena por dia), especialmente para pessoas com fatores de risco cardiovascular ou histórico familiar de problemas cardíacos”, orienta.
Para a população geral, o especialista recomenda a substituição por alternativas mais naturais como chá verde ou café, consumidos com moderação. Essas trocas representam uma escolha mais segura para obter energia adicional quando necessário.
Quando procurar ajuda médica?
Deve-se buscar atendimento médico de urgência se após o consumo de energético e álcool a pessoa apresentar:
- dor no peito, especialmente se intensa, em aperto ou irradiada para braço, mandíbula ou costas;
- palpitações persistentes ou muito intensas;
- falta de ar acentuada ou dificuldade para respirar;
- tontura severa ou desmaio;
- alterações na fala ou confusão mental;
- fraqueza ou dormência súbita em um lado do corpo;
- dor de cabeça muito intensa e de início súbito;
- convulsões;
- náuseas e vômitos persistentes;
- temperatura corporal muito elevada ou muito baixa;
- tremores incontroláveis;
- coloração azulada nos lábios ou extremidades;
- incapacidade de ficar acordado ou responder adequadamente.
Fique atento aos sinais do seu corpo. Se você tem histórico de problemas cardíacos ou toma medicamentos, redobre a atenção e agende uma consulta com um cardiologista D’Or antes de consumir qualquer tipo de bebida estimulante.